Decidir é escolher. Escolher é apostar.
Toda vez que escolhemos, estamos apostando.

Quem decide pode errar; quem não decide, já errou. Esta frase me marcou profundamente quando a ouvi pela primeira vez em 1996, em uma reunião de negócios na empresa onde trabalhava na época; a Microsoft. Mauro Muratório Not (country manager) foi quem a proferiu. O ensinamento contido neste princípio entrou com grande profundidade em minha vida, como se fosse uma adaga perfurando meu peito. Jamais me esqueci deste ensinamento. Comecei a agir conforme este princípio desde então.
Decidimos várias vezes ao dia. Tomamos decisões simples e fáceis (onde iremos, almoçar, qual marca de sabão compraremos no supermercado, qual caminho faremos para o trabalho, etc.) e decisões complexas e dificeis (onde investiremos nosso dinheiro, com quem casaremos, qual profissão a seguir, etc). Precisamos decidir. Precisamos escolher. Não há vida nem progresso se nos omitirmos em nossas escolhas e deixarmos para que outros decidam por nós.
Há dois obstáculos que fazem com que as pessoas tenham dificuldade em decidir. O primeiro é a grande incerteza que o mundo moderno apresenta para nós. Não sabemos o que acontecerá amanhã, muito menos daqui a um ano. O segundo obstáculo é a crença que as pessoas possuem de que elas não podem errar. Entramos assim em um circulo vicioso onde quanto maior a incerteza (e ela só cresce), maior a chance de errarmos; menos visibilidade temos a nossa frente. Como consequência deste cenário não decidimos, não escolhemos e assim não erramos.
Decidir é escolher. Escolher é apostar. Toda vez que escolhemos, estamos apostando. Se vamos a um restaurande Mexicano pela primeira vez e escolhemos comer Fajitas ao invés de Nachos, estamos apostando que as Fajitas serão mais deliciosas que os Nachos. Sempre que escolhemos algo, estamos apostando. A palavra apostar tem uma conotação ruim para certas pessoas. Elas pensam que apostar é somente um jogo de azar. Quem aposta, dizem estas pessoas, não sabe o que está fazendo, não tem controle sobre a situação e não sabe qual o resultado terá. Ela está somente jogando com a sorte. Isto pode ser verdade até um certo ponto.
Conheço várias pessoas que tiveram escolhas inconsequentes, que pagaram um preço caro pelas suas decisões impensadas. Qual a causa deste resultado indesejável? Elas não trataram suas escolhas como apostas, onde existe a possibilidade de perda (estar errado). Elas trataram suas escolhas com a certeza de estarem certas.
Qual a solução? Apostar e escolher com inteligência.
“Sem apostar, não podemos ganhar. Se perdermos todas as fichas, não poderemos apostar.” - Larry Hite
Para apostarmos (decidirmos) em um ambiente incerto onde as consequências e magnitude dos eventos são desconhecidos precisamos saber:
a) Quanto posso me dar ao luxo de perder? Ter a consciência de que não controlamos o resultado. Com certeza teremos perdas. Único aspecto que temos controle é o tamanho da perda. O resultado de uma escolha ou aposta pode ser positiva ou negativa. Isto nada tem a ver se a aposta foi boa ou ruim, correta ou errada. Podemos perder dinheiro em uma aposta correta. Nossa abordagem principal deve ser em estancar o tamanho da perda agressivamente, limitando o downsite e não perdendo assim todas as fichas. Quando estamos errados, saimos com uma pequena perda antes que ela se torne uma grande perda ou até mesmo uma perda devastadora. Mesmo nesta situação, a aposta está correta. Mesmo com o resultado negativo (perda) fizemos a aposta correta.
b) Coloque as chances do seu lado. Como sabemos que uma aposta mesmo com resultado negativo foi uma aposta correta? Pelo fato de as chances estarem do nosso lado. Quando apostamos corretamente, temos mais a ganhar do que a perder. Quando ganhamos, ganhamos múltiplos do valor que perderíamos (valor colocado em risco) se tivéssemos resultado negativo na aposta. Quando ganha, ganha muito. Quando perde, perde pouco. Temos assim uma assimetria positiva entre ganhos e perdas. Por sua vez a aposta errada (aquela que não deveríamos participar) possui uma assimetria negativa. Na aposta errada temos mais a perder do que a ganhar. Quando ganhamos ganhamos pouco. Quando perdemos, perdemos muito. Um exemplo da assimetria negativa é uma pessoa assaltar um banco e passar o resto da vida na cadeia (perda) para ter alguns milhões de reais (ganho).

Na próxima vez que precisares apostar faça as seguintes perguntas:
1-Se der errado; quanto/o que eu perco?
2-Se der certo; quanto/o que eu ganho?
Se tiveres mais a ganhar do que a perder, vá em frente. Caso contrário; recue.
Termino este artigo com o twitter abaixo. Ele resume como eu enxergo o mundo das apostas. Tornar a vida simples é a chave para ficarmos vivo.
Parabéns pelo artigo, Carlos! Muito bom!