Pode um investidor perder dinheiro em um fundo vencedor?
O principal inimigo do investidor é ele mesmo.
O resultado impressionante de Peter Lynch à frente do Fundo Magellan da Fidelity, com retornos compostos anuais de 29% entre 1977 e 1990, contrasta fortemente com o fato surpreendente de que o investidor médio do fundo acabou perdendo dinheiro no mesmo período. Essa aparente contradição é um estudo de caso clássico sobre o comportamento do investidor e os desafios que ele enfrenta, mesmo diante de um gestor excepcional.
Investidores têm responsabilidade pelo baixo desempenho de suas carteiras
O baixo desempenho de um investidor é frequentemente resultado de decisões ruins. O grande investidor Benjamin Graham certa vez disse: "O principal inimigo do investidor é ele mesmo." Investidores que não possuem um plano de alocação bem concebido, ou a convicção para segui-lo, geralmente permitem que suas emoções atrapalhem suas decisões.
Ao invés de focarem em seus objetivos de longo prazo, os investidores geralmente seguem a manada, entrando em pânico e liquidando suas posições durante quedas acentuadas em um produto para logo depois entrar próximo do pico em outro. O investidor tem tendência de comprometer-se com um investimento logo após vê-lo com bom desempenho e, por fim, liquidar o mesmo investimento após vê-lo com uma performance pobre.
Isso pode explicar o péssimo desempenho médio dos investidores do Magellan Fund. Ao alcançar um retorno anual médio de 29% entre 1977 e 1990, Lynch teve neste período de 13 anos, anos excepcionais e alguns anos de baixa performance. Por exemplo, em 1980, o fundo teve um retorno de 70%. No ano seguinte, ele teve desempenho abaixo de média. Investidores que entraram enquanto o fundo estava subindo em 1980 podem ter ficado frustrados com o desempenho do fundo em 1981 (possivelmente devido a a expectativa irreal de que o fundo também subiria 70% naquele ano), liquidando assim suas posições e indo procurar outra oportunidade em outro fundo. Caso tivessem permanecido no fundo por mais 10 anos, teriam obtido um retorno médio de mais de 25% ao invés de terem perdido dinheiro.
É importante ressaltar que o caso de Magellan não é único. Estudos mostram que, em geral, o investidor médio tende a perder dinheiro em fundos vencedores devido as expectativas irreais de curto prazo.
Investidores podem melhorar seus resultados financeiros com uma abordagem mais simples e disciplinada, combatendo os seguintes inimigos:
Inimigo #1 - as distrações:
Vivemos em um mundo rodeado por distrações. Quem as gerencia, vence, e será recompensado no longo prazo. Ruídos são os piores inimigos do investidor. Eles nos levam ao medo, ansiedade e incontáveis erros de julgamento.
Encontramos "as fábricas" de distrações nas seguintes atividades: Bancos, corretoras, analistas, palpiteiros (online e offline), mídia tradicional, influenciadores digitais (em sua grande maioria) entre outros. Esteja alerta sobre o que lê e escuta. Use um filtro bem restritivo. Desconfie. Esteja atento ao conflito de interesse inerente a todas as interações humanas (a contraparte quer empurrar um produto ou está defendendo meus interesses?).
Um alerta importante: Consulte no máximo uma vez ao mês a rentabilidade do seu portfólio. Foque no resultado do portfólio como um todo e não nos fundos individualmente. Olhe o mínimo possível as notícias sobre o mercado.
Inimigo #2 - Complexidade:
Opte sempre pelo simples. O simples é mais fácil de entender, executar e manter no longo prazo. Manter um plano no longo prazo é definidor.
Estabeleça limites e restrições em seu plano: o que você fará, o que não fará. O que aceita e o que não aceita. Por exemplo: meu portfólio terá a seguinte composição: 50% renda fixa, 25% ações e 25% investimentos alternativos. Investirei em fundos ativos e fundos passivos. Uma vez por ano farei o rebalanceamento. Utilizarei somente o aplicativo da corretora para fazer minhas movimentações. Não quero falar com corretores que possivelmente irão tentar me empurrar produtos que sejam bons para eles e não sejam bons para mim. Sempre que entrar um novo recurso financeiro investirei nos fundos da minha carteira conforme os percentuais estabelecidos no plano (% por classe de ativos). Jamais investirei em fundos imobiliários, COEs e novidades do mercado. Farei isso por 5 anos antes de fazer alguma alteração nos percentuais da carteira.
Repare que com este plano as escolhas e decisões já estão feitas. Cabe somente executá-las. Seguindo um plano como este não haverá perda de tempo, energia e foco profissional para decisões urgentes e de última hora.
Estabeleça um plano simples, fácil de entender e fácil de executar. Desta forma eliminará a complexidade da sua vida.
Inimigo #3 - Indisciplina:
Julgar o resultado de suas escolhas pelos resultados de curto prazo e não pelo processo em si é um grande erro. Podemos ter um resultado excelente no curto prazo concentrando nossa carteira 100% em um investimento. Isto não passa de sorte, visto que um bom processo de investimentos contempla um mínimo de diversificação (não colocar todos os ovos na mesma cesta). A indisciplina de ficar caçando os resultados de curto prazo e tomando decisões guiado pelas emoções em detrimento de construir um bom processo de investimentos custará caro. Paradoxalmente, podemos não ter resultados bons no curto prazo executando o processo correto - fazendo a coisa certa. Isto é perfeitamente compreensível e perdoável. Com o processo correto, cedo ou tarde os resultados aparecerão para os investidores disciplinados e comprometidos com um bom processo de investimentos. Basta ver o caso de Peter Lynch, apresentado acima.
Controle as distrações, elimine a complexidade e seja um investidor disciplinado. Foque na sua carteira de investimentos como um todo e não nos investimentos individualmente. Lembre-se: não existe plano perfeito. Até mesmo o Buffett passa por momentos difíceis.