Risco divergente e Trend Following: Siga o Bezos
"Os grandes projetos vencedores pagam os milhares de experimentos que fracassaram." - Jeff Bezos
Para explicar a estratégia Trend Following (TF) vou me valer do conceito de dois tipos de visão de mundo, comportamentos e estilo de arriscar. Seus nomes são: risco convergente e risco divergente.
O estilo de arriscar chamado convergente consiste na crença de que conhecemos, entendemos e assumimos que todos os riscos envolvidos são estáveis e conhecidos. Desta forma estamos propensos a apostar uma grande parte dos nossos recursos em um único investimento ou uma única classe de ativos, devido a certeza e confiança que temos nesta estrutura estável de risco. Quando os ativos sobem de preço, lucros são rapidamente realizados para confirmar esta teoria.
Por outro lado, quando o preço dos ativos caem, existe a crença de que eles voltarão a subir. Muitos investidores utilizam esta queda para fazer o famoso "preço médio". A visão de mundo convergente faz com que o investidor realize pequenos ganhos e tenha perdas devastadoras, visto que ele não aceita que possa estar errado.
O estilo de tomada de risco divergente professa a ignorância. O investidor/empreendedor tem conhecimento do que ele não sabe . Ele não tenta adivinhar o futuro, não faz previsões. A incerteza presente no dia a dia o leva a aceitar que pode errar e com certeza estará errado muitas vezes. Por isto é fundamental aceitar e limitar o tamanho das perdas, minimizando-as, não deixando que elas cresçam e o leve à ruína. Fazer pequenas apostas nos possibilita participar de muitas e diferentes oportunidades simultaneamente. Na visão de mundo divergente, aceitar e limitar as perdas é a regra do jogo. Se a aposta andar a favor, o investidor irá mantê-la e até mesmo aumentá-la e sairá quando este movimento terminar.
Imagine que você é dono de um restaurante. Você deseja criar uma nova receita exótica. Você misturará ingredientes que jamais estiveram juntos em uma receita. Após este experimento inicial você provará esta receita. Caso não fique boa, você colocará no lixo esta pequena porção (limitando a perda). Aproveitará o conhecimento adquirido na primeira tentativa e adicionará, subtrairá ingredientes e alterará quantidades para a segunda tentativa. Você repetirá este processo inumeras vezes até que a receita fique do seu agrado. No momento que você aprovar a receita, você pedirá a opinião de seus amigos. Com base nesta opinião, você poderá fazer alguns ajustes nesta receita com intuito de melhorá-la. Somente após este processo de várias pequenas perdas e a aprovação do grupo de amigos é que você colocará esta nova receita no cardápio de seu restaurante.
Alocar o risco em várias pequenas apostas, cortando as perdas rapidamente e deixando os lucros rolarem, reflete e caracteriza o estilo de tomada de risco divergente. Quanto maior a incerteza, mais a visão de mundo divergente ganha relevância, devido a sua capacidade de adaptação. Obviamente, a estratégia TF está posicionada para quando os preços dos mercados divergem (tendência). Não é certo que a estratégia TF gerará lucros sempre. Se olharmos para o perfil de retorno desta estratégia, encontraremos alta frequência de pequenas perdas e baixa frequência de lucros de alta magnitude.
"O grande lucro não estava nas flutuações individuais, mas nos principais movimentos do mercado como um todo e em suas tendências" - Jesse Livermore
Uma outra maneira de entendermos o conceito de divergente e convergente é através do modo como as pessoas se relacionam. Pessoas que acreditam que o mundo é um ambiente estável, muitas vezes controlável e que oscila pouco, tendem a ter um comportamento social convergente. Pessoas que pensam desta maneira são pessoas que depositam seus esforços em cultivar as mesmas amizades e conviver quases sempre com os mesmos grupos de pessoas. Sua rede de contatos (networking) se restringe sempre aos mesmos grupos. Já pessoas que possuem um comportamento social divergente, buscam se conectar com o máximo possível de pessoas. Em um coquetel, elas estão sempre mudando de grupos e indo de mesa em mesa falando com várias pessoas. Se a “química” acontece, elas seguem a tendência. Se não houver “química” elas cortam rapidamente a perda e buscam uma nova oportunidade. O grande negócio, o novo sócio ou o grande amor pode sair deste comportamento divergente.
Afinal, o que é melhor? Ter a visão divergente ou convergente?
O ideal é ter um equilíbrio. Há momentos em que será necessário ser convergente e em outros, ser divergente.
Termino aqui, lembrando que a empresa que mais vale no mundo possui em seu fundador, Jeff Bezos, uma forte veia na tomada de risco divergente.
“Quando cometemos erros e cometemos erros extraordinários, como o Firephone e muitos outros projetos que simplesmente não deram certo (não temos tempo suficiente para eu listar todas as nossas experiências fracassadas) mas os grandes projetos vencedores pagam os milhares de experimentos que fracassaram."- Jeff Bezos